Friday 17 November 2006

Please, Sir, I want some more...

Quando eu era pequenino, não havia televisão onde eu vivia. Nos tempos livres da escola e das brincadeiras, lia-se e ia-se ao cinema. O que se lia, dependia muito das bibliotecas dos pais, cujo acesso era praticamente livre. Foi assim que pude passar directamente de uns livros do Pequenu (os suecos sempre foram bons em literatura infantil) para um livro de Knut Hamsun publicado em português com o título Pão e Amor que muito me impressionou, pois recriava de forma muito naturalista a vida desolada dos habitantes das montanhas invernais da Noruega. Teria eu uns dez anos, e só mais tarde regressei a essas paragens para me maravilhar com a viagem de Nils Holgersson através da Suécia, e muito depois com outras viagens guiado por Bergman ou Dreyer. O cinema já não era assim, porque havia a barreira dos "maiores de 12 anos", não havia televisão lá onde eu estava, nem vídeo, nem dvd, nem internet, imaginem. Quando era criança, via, portanto, filmes para crianças. Consumia de tudo, que não era muito: bonecos animados, filmes Disney, filmes da Marisol, e não sei muito bem que mais. Oliver!, o musical de Lionel Bart adaptado para o cinema por Carol Reed em 1968 foi o primeiro filme a sério que vi, tinha eu doze anos, aquele que durante muito tempo foi o maior de todos, o mais amado, e que abriu caminho a muitos outros, bem melhores (digo eu hoje); não era nem passou a ser nenhum clássico canonizado, nem uma série B de culto, nada disso: foi um filme coroado de sucesso e de óscares na época e hoje largamente (e justamente) desvalorizado, mas ao qual me liga muita ternura. A sua banda sonora foi o primeiro LP que tive (Consider yourself, Who will buy?, Oom pah pah, conhecia-as de trás para a frente), despoletou uma paixão literária por Charles Dickens, foi o primeiro filme que para mim teve um realizador e um cast, cujas carreiras segui durante algum tempo (os jovens actores não voltaram a fazer nada de especialmente interessante, mas Carol Reed, esse, levou-me ao Terceiro Homem, e este, por sua vez, a Orson Welles). Mas isso viria mais tarde.
Percebem agora por que situo o filme nas fundações da minha cinefilia? Todos os caminhos são bons...

1 comment:

Anonymous said...

não se esquece o primeiro filme. acho mesmo que depois do primeiro filme começamos a saber desejar que a nossa vida seja um filme.
estou contente por espreitar este blog