Wednesday 10 January 2007

Anybody got a match?

Que o cigarro faz mal à saúde de quem fuma, parece ser inegável. A senhora da imagem tem a sua saúde visivelmente debilitada devido aos muitos cigarros que fuma alegre e desmioladamente.

Sabe-se também já que não é lá muito bom para a vizinhança. Não é o caso destes senhores, que para além de prejudicarem a sua própria saúde, atentam, inconscientemente, contra a saúde um do outro.

Vai daí que o mundo moderno e civilizado decidiu proibir. Hoje, este rapaz antiquado não poderia fumar tranquilamente à mesa de um bistrô enquanto preparava uma qualquer revolução.

De nada lhe serviria ignorar avisos ou protestar. Seria certamente obrigado a apagar o cigarro ou a abandonar o local, escorraçado, rejeição a que muitos ainda resistem adoptando um ar de desafio.

A resistência e o desafio assumem diversas formas, embora hoje em dia seja um fenómeno cada vez mais socialmente estigmatizado

ou então relegado para a esfera privada, onde teima em perdurar em determinados momentos de intimidade

ajudando ainda muito no estabelecimento de contactos entre enjeitados da sociedade livre e purificada

e na superação de momentos psicologicamente extenuantes.

Ora a fábrica de sonhos que o cinema é tem glamourizado o fumo de forma consciente e perniciosa.

Todos sabemos que os espectadores acéfalos sempre saíram a correr das salas mimando o que acabavam de ver no écrã, fosse o John Wayne aos tiros, a Garbo a prostituir-se ou a Marlene a fumar.

Felizmente que há evolução e quem cuide de nós. Vai daí, houve quem decidisse que havia gestos que era melhor ocultar dos espectadores. Ficarão circunscritos a inserts removíveis em qualquer altura ou obedecerão a regras muito estritas como a de não mostrarem no mesmo plano a cara do actor e o gesto delinquente.

Mas para que todo o cinema possa continuar a ter um papel social, doravante exclusivamente positivo, decidiram ocultá-los, ou alterá-los ligeiramente, também nos filmes antigos, através de modernos processos digitais. Numa nova versão que vai estrear este ano, esta senhora, por exemplo, em lugar de estar a fazer o que parece, está mascarada de árvore de Natal.

1 comment:

Anonymous said...

e o que farão aos diálogos que também se referem ao prazer da nicotina? e aos diálogos que não existem porque a deixa era mesmo só acender um cigarro ou aparecer o fumo saído de uma boca escarlate ou de um cachimbo do maigret ou de um charuto de um gangster?