Tuesday 23 January 2007

The Curse of the Golden Statuette

O óscar irá finalmente para Martin Scorsese, um dos maiores realizadores contemporâneos, autor de alguns dos melhores filmes americanos dos últimos 30 anos (Taxi Driver, de 1976 - ano em que a melhor realização foi para John G. Avildsen por Rocky -, Raging Bull, de 1980 - ano em que o prémio foi para Robert Redford por Ordinary People -, Goodfellas, de 1990 - melhor realizador: Kevin Costner por Dances with Wolves). Scorsese será premiado por The Departed, um dos seus filmes mais fracos (mas, atenção, um filme fraco de Scorsese é sempre mais interessante do que os melhores filmes de Ron Howard, Rob Marshall ou Paul Haggis), remake de um filme chinês recente bem melhor (Infernal Affairs).

Pela primeira vez na sua história, o óscar de melhor filme do ano será atribuído a um filme falado numa língua estrangeira (ou seja, uma daquelas que nós falamos): Letters from Iwo Jima, realizado por Clint Eastwood em japonês.

Outra oportunidade de tal acontecer (o melhor filme do ano ser, pelo menos parcialmente, não falado em inglês) seria a vitória do filme mais pretencioso, grandiloquente e hipócrita do ano, Babel, mas apesar das suas sete nomeações, o filme global do mexicano Alejandro González Iñárritu sairá de mãos vazias da cerimónia do próximo dia 25 de Fevereiro. Os apresentadores não conseguiriam pronunciar o seu nome.

Caso a Academia decida fazer justiça a contrario a Scorsese, não lhe dando o óscar e permitindo-lhe continuar, juntamente com Alfred Hitchcock, Howard Hawks, Nicholas Ray, Charles Chaplin ou Stanley Kubrick, na prestigiada lista dos realizadores nunca premiados, o grande Clint Eastwood pode vir a juntar-se à restrita lista dos realizadores com mais de dois óscares, que inclui John Ford, Frank Capra e William Wyler. Com a terceira vitória de Eastwood, evitar-se-ia o contra-senso de separar os prémios de melhor filme e de melhor realizador (como se a APE premiasse um romance de Lobo Antunes, mas considerasse o de Saramago o mais bem escrito).

Uma estrangeira vencerá o óscar de melhor actriz. Contra todas as expectativas, não será a grande actriz anglo-russa Helen Mirren, mas sim Penélope Cruz, prodigiosa Raimunda no filme Volver de Pedro Almodóvar. É que apesar de todos sabermos que para arrebatar uma grande interpretação é necessário falar inglês (em 80 anos de óscares, só por duas vezes - Sophia Loren em 1961 e Roberto Begnini em 1998 - ganharam actores falando estrangeiro), tudo indica que este ano a Academia vai contrariar essa tendência.

Apesar da ausência do filme de Almodóvar em mais nomeações à parte a de Cruz, o espanhol será a língua do melhor filme estrangeiro: El laberinto del fauno, o "meu" filme de Natal, realizado por Guillermo del Toro. Este filme, que dará ao México a sua primeira vitória nesta categoria, obterá igualmente óscares pelo argumento original, fotografia, direcção artística, caracterização e banda sonora, tornando-se assim o filme estrangeiro mais premiado da história da Academia de Hollywood.

O México tem, aliás, grandes probabilidades de levar a parte de leão dos óscares deste ano. É que, para além do inenarrável Babel, há que contar ainda com o filme Children of Men de Alfonso Cuarón, autor do divertido Y tu mamá también e de um dos Harry Potters. De produção anglo-americana, este filme será uma alternativa séria ao Laberinto del fauno para o prémio da fotografia (Emmanuel Lubezki é um dos grandes directores de fotografia actuais, principal responsável pela beleza de The New World) e tem de qualquer modo assegurados os prémios do argumento adaptado e da montagem.

Ryan Gosling, um dos mais talentosos e inteligentes actores americanos, converter-se-á no mais jovem vencedor do óscar de melhor actor, pelo filme Half Nelson. A categoria em que concorre é, aliás, a que reúne um dos grupos mais sólidos de grandes talentos (Peter O'Toole, Forest Whitaker, Leonardo DiCaprio), o que só virá a prestigiar o seu prémio.

Rendez-vous, portanto, daqui a um mês, com esta lista na mão.

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