Saturday 13 January 2007

A Herança da Carne

Foi esse o colorido título português de um dos mais esquecidos e belos filmes de Vincente Minnelli, Home from the Hill. Para além de ter sido casado com Judy Garland e ser pai de Liza, Minnelli foi sobretudo conhecido como realizador de musicais (An American in Paris, The Band Wagon, Gigi), mas ficará para a história do cinema por ter assinado um punhado de excelentes melodramas nos anos 50 e 60 que incluíram The Bad and the Beautiful e Some Came Running. Home from the Hill (agora editado pela primeira vez em DVD em França juntamente com o referido Some Came Running) é um daqueles casos de filmes já na época deliciosamente old fashioned, testemunho do melhor que o sistema de estúdios nos deu, com todo o luxo do know how que a MGM ainda era capaz de reunir em 1960, ao serviço de um drama familiar, com personagens larger than life, em CinemaScope e a cores.

A acção decorre numa pequena cidade do Sul; Robert Mitchum é o proprietário de terras mais rico e o principal predador sexual da região, actividade que reduziu praticamente a letra morta o seu casamento com Eleanor Parker, desde que lhes nasceu um filho (George Hamilton), agora com 17 anos. Mitchum tem outro filho, não reconhecido como tal, George Peppard, fruto de uma ligação anterior. Hamilton inicia um namorico mas, marcado pela relação dos pais, não tem coragem para assumir um compromisso mais sério.

O ritmo do filme, apesar da trama complicada, recheada de acidentes dramáticos, é lento, deixa-nos respirar, permite-nos envolver parcimoniosamente nas motivações das personagens, e um dos principais méritos de Minnelli é mostrar-nos os vários lados, positivos e negativos, de cada uma, tornando-as credíveis mesmo nos twists e exageros melodramáticos da história. E como sabe filmar Minnelli, como sabe compor planos em CinemaScope, como sabe usar as cores primárias para melhor revelar os sentimentos ocultos, que lição permanente os seus elegantes movimentos de câmara, úteis, expressivos, sem a menor gordura nem cedência ao virtuosismo gratuito! A cena da morte de Mitchum é, a esse respeito, um modelo de economia dramática, em que em 3 ou 4 minutos, com uma meia dúzia de planos, o realizador concentra os principais temas do filme, antes de partir para a resolução final.

Uma última palavra para um cast vintage, o grande Mitchum, Parker (conhecida por uma certa geração como a baronesa antipática de Música no Coração), Hamilton e sobretudo Peppard (o vizinho de Audrey Hepburn em Breakfast at Tiffany's): todos credíveis, comoventes, magníficos.

3 comments:

Anonymous said...

será que Minneli tb estava naquele cruzeiro de uxo onde os passageiros de 1ª classe se distinguiam dos de turística pela companhia de JudY Garland ou pelo facto de saberem que a Judy iria ser mãe de uma menina que se chamaria Liza? (piada privada, claro....)

Citizen Kane said...

My fair Ana: como é que era mesmo a anedota? Pode ser que algum dos restantes leitores a entenda finalmente...

Anonymous said...

já percebi que sabe quem eu sou! adoro o my fair ana!quanto ao enigma que está subjacente à graça ainda não tenho coragem de o revelar é um trauma antigo ...